Lira
VII
Tu,
formosa Marília, já fizeste
Com
teus olhos ditosas as campinas
Do turvo ribeirão em que nascestes;
Deixa,
Marília, agora
As
já lavradas setas:
Anda afoita a romper os grossos mares,
Anda
encher de alegria estranhas terras;
Ah!
por ti suspiram
Os
meus saudosos lares.
Não
corres como Safo sem ventura,
Em
seguimento de um cruel ingrato,
Que
não cede aos encantos da ternura;
Segues
um fino amante,
Que
a perder-te morria.
Quebra
os grilhões do sangue, e vem, ó Bela;
Tu
já foste no Sul a minha guia,
Ah!
deves ser no Norte
Também
a minha estrela.
Verás
ao Deus Netuno sossegado,
Aplainar
c’o tridente as crespas ondas;
Ficar
como dormindo o mar salgado;
Verás,
verás, d’alheta
Soprar
o brando vento;
Mover-se
o leme, desrizar-se o
linho:
Seguirem
os delfins o movimento,
Que
leva na carreira
O empavesado pinho.
Verás
como o Leão na proa arfando
Converte
em branca espuma as negras ondas,
Que
as talha, e corta com murmúrio brando;
Verás,
verás, Marília,
Da
janela dourada,
Que
uma comprida estrada representa
A linfa cristalina, que pisada
Pela
popa que foge,
Em borbotões rebenta.
Bruto
peixe verás de corpo imenso
Tornar
ao torto anzol, depois de o terem
Pela
rasgada boca ao ar suspenso;
Os
pequenos peixinhos
Quais
pássaros voarem;
De toninhas verás o mar coalhado,
Ora
surgirem, ora mergulharem,
Fingindo
ao longe as ondas,
Que
forma o vento irado.
Verás
que o grande monstro se apresenta,
Um
repuxo formando com as águas,
Que
ao mar espalha da robusta venta;
Verás,
enfim, Marília,
As
nuvens levantadas,
Umas
de cor azul, ou mais escuras,
Outras
de cor-de-rosa, ou prateadas,
Fazerem
no horizonte
Mil
diversas figuras.
Mal
chegares à foz do claro Tejo,
Apenas
ele vir o teu semblante,
Dará
no leme do baixel um beijo.
Eu
lhe direi vaidoso:
“Não
trago, não, comigo,
“Nem
pedras de valor, nem montes d’ouro;
“Roubei
as áureas minas, e consigo
“Trazer
para os teus cofres
‘‘Este
maior Tesouro.”
Glossário
Ditosas:
Felizes, venturosas.
Turvo:
Perturbado, agitado.
Afoita:
Corajosa, audaz.
Safo:
Poetisa da ilha de Lesbos que, segundo a lenda, cometeu suicídio por amor a Fáon.
Deus
Netuno: Nome romano de Poseidon, deus grego dos oceanos.
Alheta:
Encontro da popa e lateral do navio.
Desrizar:
Desenrolar.
Delfins:
Golfinhos.
Empavesado:
Embandeirado; Defendido.
Linfa:
Água.
Borbotões:
Bolhas de água que brotam.
Toninhas:
Atuns de pouca idade e pequenos.
Repuxo:
Jorro de água que se eleva bastante e cai em forma de chuva.
Tejo:
Rio da Península Ibérica cuja foz situa-se em Lisboa.
Baixel:
Pequeno navio ou barco.
Interpretação
Na introdução da lira, Dirceu faz um pedido a Marília, pede-lhe que deixe os campos, a terra, e que vá se aventurar nos mares, em busca de terras desconhecidas para ela.
Em seguida diz que Marília é sua estrela guia e a partir de então começa a descrever como seria a viagem. Ele lhe diz que ela verá o mar em calmaria quando Netuno estiver sossegado, que sentirá o vento em seu rosto enquanto delfins acompanham o navio, que verá as ondas se transformarem em espuma e borbotões diante de seus olhos. Também conta o que ela há de ver ao fisgar um peixe, o que há de sentir ao ver os peixes na água se igualando aos pássaros no céu.
Na penúltima estrofe da lira, Dirceu dá esperanças dizendo que mesmo quando vier a monstruosa tempestade, depois dela surgirão nuvens de diversas cores e formas e que então, por fim, Marília chegará ao seu destino e irá ao encontro de seu amado e este dirá que Marília é o único tesouro que ele trouxe, mas é também o mais precioso.
Na introdução da lira, Dirceu faz um pedido a Marília, pede-lhe que deixe os campos, a terra, e que vá se aventurar nos mares, em busca de terras desconhecidas para ela.
Em seguida diz que Marília é sua estrela guia e a partir de então começa a descrever como seria a viagem. Ele lhe diz que ela verá o mar em calmaria quando Netuno estiver sossegado, que sentirá o vento em seu rosto enquanto delfins acompanham o navio, que verá as ondas se transformarem em espuma e borbotões diante de seus olhos. Também conta o que ela há de ver ao fisgar um peixe, o que há de sentir ao ver os peixes na água se igualando aos pássaros no céu.
Na penúltima estrofe da lira, Dirceu dá esperanças dizendo que mesmo quando vier a monstruosa tempestade, depois dela surgirão nuvens de diversas cores e formas e que então, por fim, Marília chegará ao seu destino e irá ao encontro de seu amado e este dirá que Marília é o único tesouro que ele trouxe, mas é também o mais precioso.
Características do Arcadismo
Mais uma vez, nota-se a presença da cultura Greco-romana na lira na citação de Safo e Netuno.
O desprendimento do materialismo também é evidente na lira, principalmente na última estrofe, quando Dirceu faz pouco caso de pedras preciosas e montes de ouro, ao mesmo tempo em que descreve Marília como sendo seu maior tesouro.
Já no próprio enredo da lira, o Carpe Diem fica claro assim como a valorização da natureza, pois a todo momento Dirceu fala do quanto sua amada aproveitaria seus dias de viagem, e quanto à natureza, Dirceu fala das ondas negras tornando-se espuma branca, dos golfinhos acompanhando o navio e de toninhas pulando no oceano.
Situação histórica
É provável que quando esta lira foi escrita Tomás já havia sido exilado em Moçambique, e apesar de ter passado anos sem ver Maria Dorotéia ele ainda tinha uma fagulha de esperança e ela ainda inspirava Marília. Gradativamente, com o tempo, Marília foi sendo cada vez menos aparente nas liras, mas este não é o caso desta, na qual ele implicitamente pede a Maria Dorotéia que, atravessando o mar, vá ao encontro dele em seu exílio.
Isabella, nº20, 1ºA
Me identifiquei com a lira, pois, particularmente, se parece muito com meus devaneios amorosos... Situações idealizadas e tudo mais. A interpretação da lira foi ótima, esclarecedora e específica. As características do Arcadismo foram bem exploradas e foi interessante a ênfase dada ao Carpe Diem. O comentário histórico foi abrangente e ajuda a esclarecer a situação descrita na lira. Uma ótima análise.
ResponderExcluirRoberta Fidelis, nº 32, 1º "A".
Sua interpretação foi boa e as características do Arcadismo foram explicadas de forma compreensível. O contexto histórico também foi bem explicado não restando dúvidas.
ResponderExcluirRuth Oliveira, nº 33, 1º "A".
sua análise esta ótima seus argumentos foram bem específicos,e a situação histórica bem elaborada de forma que o leitor possa entender de forma bem clara a lira.
ResponderExcluirluanna,n 26,1"a'.
Uma ótima análise.
ResponderExcluirVale ressaltar que se bem observarmos, todos os tópicos abordados pela Isabella se ligam fazendo da análise uma breve história da Lira VII.
Marcone, n°28 , 1° ''A''.
A análise da lira foi bem esclarecida e a característica foi de acordo com a lira.
ResponderExcluirStefane Sampaio 1°Ano ''A'' N°35
Nada a criticar sobre sua análise, muito bem elaborado e compreensiva, gostei realmente de todo o contexto. E interessante você novamente ressaltar sobre a presença da cultura Greco-romana na lira na citação de Safo e Netuno e o desprendimento do materialismo que também é evidente na lira.
ResponderExcluirAmanda Marques nº 02, 1º A.