sábado, 31 de agosto de 2013

3ª Parte - Lira ll

Em vão do amado
filho que foge,
Vênus quer hoje
notícias ter.

Sagaz e astuto
ele se esconde
em parte aonde
ninguém o vê.

Dos sinais dados,
bem se conhece
que ele aborrece
a mãe que tem.

Se os seus defeitos
Ela publica,
razão lhe fica
de se ofender.

Foge o menino
e, disfarçado,
vive abrigado
numa cruel.

Com mil carícias
a ímpia o trata;
nem o desata
do peito seu.

Se a semelhança
sempre amor gera,
deve uma fera 
outra acolher.

Ah! se o teu nome,
Marília, calo,
que de ti falo
bem podes crer.

Glossário

Sagaz -  Inquieto
astuto - Manhoso

Interpretação

Nesta lira são presentes várias aspectos interessantes. Os elementos tradicionais da poesia elaborados, dão definitivamente o seu próprio estilo, e aqui aparentemente apresenta-se como um '' fugitivo '' do amor nas linhas que escreve, o eu lírico emociona-se, vibra, lamenta-se da frivolidade da amadaafirma seu valor próprio diante das recusas. Este consiste sobretudo nas novidades sentimentais e concepcionais que trouxe para uma literatura, derrancada no esforço de remoer sem cessar a antiguidade. '' Em vão do amado/ filho que foge,/ Vênus quer hoje/ notícias ter. '' , '' Sagaz e astuto/ ele se esconde/ em parte aonde/ ninguém o vê.'' Seguindo isso, Dirceu aparenta no entanto estar carente, falando de seus defeitos que lhe ofende, onde a semelhança de ter o amor que sente, lhe acolhe. A lira em um todo é uma melodia, compreensiva e doce de se ler. 

Características do Arcadismo

À forma graciosa e fútil dos primeiros árcades, Gonzaga contrapõe o cotidiano visto de modo caloroso e delicado. Assim, como o poeta integrado no espírito neoclássico e arcádico de Gonzaga, uma das maiores expressões literárias da época, descreve Marília. Não importava que Marília fosse brasileira e morena, era, talvez, mais importante estar integrado no espírito e convenções do Arcadismo. Vocabulário simples; Frases na ordem direta; Ausência quase total de figuras de linguagem; Manutenção de versos decassílabos, do soneto e de outras formas clássicas; 

O Arcadismo quanto à forma 

Vocabulário simples;
Frases na ordem direta; 
Ausência quase total de figuras de linguagem; 
Manutenção de versos decassílabos, do soneto e de outras formas clássicas;  

Comentário sobre a situação histórica

Tomás António Gonzaga escreveu versos marcados por expressão própria, pela harmonização dos elementos racionais e afetivos e por um leve toque de sensualidade. Segundo Alfredo Bosi, Gonzaga está acima de tudo preocupado em "achar a versão literária mais justa dos seus cuidados". Assim, "a figura de Marília, os amores ainda não realizados e a mágoa da separação entram apenas como 'ocasiões' no cancioneiro de Dirceu, o que diferencia o autor de vários outros futuros escritores românticos.

Amanda da S. Marques nº 02, 1º A.

Análise da Lira III - Terceira Parte

Lira III

Tu não verás, Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho, e a rica, terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
Ou da minada serra.

Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.

Não verás derrubar os virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda novas;
Servir de adubo à terra a fértil cinza;
Lançar os grãos nas covas.

Não verás enrolar negros pacotes
Das secas folhas do cheiroso fumo;
Nem espremer entre as dentadas rodas
Da doce cana o sumo.

Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grande livros,
E decidir os pleitos.

Enquanto revolver os meus consultos.
Tu me farás gostosa companhia,
Lendo os fastos da sábia mestra história,
E os cantos da poesia.

Lerás em alta voz a imagem bela,
Eu vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.

Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
Que tens quem leve à mais remota idade
A tua formosura.


Glossário:
Cativos: escravos.
Minada: escavada.
Esmeril: resíduo de minerais pesados.
Granetes: pequenos grãos.
Bateia: gamela de madeira usada para lavagem de areia ou cascalho que contenha minerais preciosos.
Capoeiras: mato nascido nas áreas em que faz a derrubada de matas virgens.
Feitos: processos judiciais.
Pleitos: conflitos.
Consultos: anotações.
Fastos: fatos.

Interpretação
A Lira III da terceira parte da obra Marília de Dirceu, considerada uma das mais belas, apresenta o realismo descritivo, captando paisagens e o trabalho dos escravos na região.  O eu lírico faz referências à mineração e à agricultura, apresentando dois ambientes, o exterior (apresentado nas quatro primeiras estrofes), e o interior (apresentado nas quatro últimas estrofes).   Pode-se notar então que os escravos trabalham em atividades econômicas da região como a exploração aurífera através da mineração. Nos versos “granetes de oiro/ No fundo da bateia”, da segunda estrofe, foi empregado o termo garimpagem, ou seja, nessa parte observa-se o solo sendo explorado à procura de ouro. O trabalho industrial também é apresentado na lira através da produção do fumo e do açúcar, presentes na quarta estrofe.

Características do Arcadismo e da Lira
Na Lira III, as características presentes são o discurso em ordem direta, a moderação no emprego da linguagem, as referências à mineração e à agricultura que são apresentadas logo nas primeiras estrofes. Outra característica marcante é o uso frequente de adjetivos como em “rica terra”, “hábil negro” e “cansado processo”. Na última estrofe, o autor propõe que a beleza de sua amada seja eternizada por suas palavras, exaltando não apenas a si mesmo, mas também à Marília.

Comentário sobre a situação histórica
Tomás Antônio Gonzaga propõe diante da promessa de total dedicação à Marília que sua beleza seja eterna por sua lira. No ambiente fora da realidade da vida de casados, o poeta não apenas exalta Marília, mas também a si mesmo. Apesar de ter passado muito tempo na prisão e de ter ficado longe de sua amada ele ainda tem esperanças de poder viver ao seu lado e casar-se com ela. 

Ruth Oliveira, nº 33, 1º "A".

Lira IV - Parte III

Amor por acaso
a um pouso chegava,
aonde acolhida
a Morte se achava.

 Risonhos e alegres,
os braços se deram,
e as armas unidas
num sítio puseram.

 De empresas tamanhas
cansados já vinham,
e em larga conversa
a noite entretinham.

 Um conta que há pouco
a seta aguçada
em uma beleza
deixara empregada.

 Diz outro que as flechas
cravara no peito
de um grande, que teve
o mundo sujeito.

 Enquanto das forças
cada um presumia,
seus membros já lassos
o sono rendia.

 Dormindo tranqüilos,
a noite passaram,
e inda antes da aurora
com ânsia acordaram.

- É tempo que o leito
deixemos, ó Morte –
Amor, já erguido,
falou desta sorte.

- É tempo, - em reposta
a Morte repete –
que à nossa fadiga
dormir não compete.

 As armas colhamos,
voltemos ao giro:
cada um a seu gosto
empregue o seu tiro.

 Vão, inda cos olhos
em sono turbados,
ao sítio em que os ferros
estão pendurados.

 Amor para as setas
da Morte se enclina;
de Amor logo a Morte
co’as flechas atina.

 Oh! golpes tiramos!
oh! mãos homicidas!
são tiros da Morte
de Amor as feridas.

 De um sonho, que pinto,
Marília, conhece
se amor, ou se morte
esta alma padece.

Glossário:
Turbados- é uma pessoa perturbada.
Padece- ser atormentado.


Interpretação:

Na lira Dirceu fala sobre um sonho que ele teve com o amor e com a morte
Que eles andavam lado a lado. E a morte deu um tiro no amor ferindo-o.
E que ele sofre pelo amor e pela morte. Dirceu fala para Marilia que sua alma é atormentada morte.

Características:

O que predomina na lira é o uso da linguagem simples. Dirceu fala muito sobre o Arcadismo nessa lira apesar de que todas as suas liras são de acordo com a expressão do Arcadismo.

Situação histórica:

 Essa lira foi escrita depois que Dirceu foi deportado para Moçambique em 1792.

Stefane Sampaio 1° Ano ''A'' N°35


Terceira Parte

Lira VII

Tu, formosa Marília, já fizeste
Com teus olhos ditosas as campinas
Do turvo ribeirão em que nascestes;
Deixa, Marília, agora
As já lavradas setas:
Anda afoita a romper os grossos mares,
Anda encher de alegria estranhas terras;
Ah! por ti suspiram
Os meus saudosos lares.

Não corres como Safo sem ventura,
Em seguimento de um cruel ingrato,
Que não cede aos encantos da ternura;
Segues um fino amante,
Que a perder-te morria.
Quebra os grilhões do sangue, e vem, ó Bela;
Tu já foste no Sul a minha guia,
Ah! deves ser no Norte
Também a minha estrela.

Verás ao Deus Netuno sossegado,
Aplainar c’o tridente as crespas ondas;
Ficar como dormindo o mar salgado;
Verás, verás, d’alheta
Soprar o brando vento;
Mover-se o leme, desrizar-se o linho:
Seguirem os delfins o movimento,
Que leva na carreira
O empavesado pinho.

Verás como o Leão na proa arfando
Converte em branca espuma as negras ondas,
Que as talha, e corta com murmúrio brando;
Verás, verás, Marília,
Da janela dourada,
Que uma comprida estrada representa
A linfa cristalina, que pisada
Pela popa que foge,
Em borbotões rebenta.

Bruto peixe verás de corpo imenso
Tornar ao torto anzol, depois de o terem
Pela rasgada boca ao ar suspenso;
Os pequenos peixinhos
Quais pássaros voarem;
De toninhas verás o mar coalhado,
Ora surgirem, ora mergulharem,
Fingindo ao longe as ondas,
Que forma o vento irado.

Verás que o grande monstro se apresenta,
Um repuxo formando com as águas,
Que ao mar espalha da robusta venta;
Verás, enfim, Marília,
As nuvens levantadas,
Umas de cor azul, ou mais escuras,
Outras de cor-de-rosa, ou prateadas,
Fazerem no horizonte
Mil diversas figuras.

Mal chegares à foz do claro Tejo,
Apenas ele vir o teu semblante,
Dará no leme do baixel um beijo.
Eu lhe direi vaidoso:
“Não trago, não, comigo,
“Nem pedras de valor, nem montes d’ouro;
“Roubei as áureas minas, e consigo
“Trazer para os teus cofres
‘‘Este maior Tesouro.”

Glossário

Ditosas: Felizes, venturosas.
Turvo: Perturbado, agitado.
Afoita: Corajosa, audaz.
Safo: Poetisa da ilha de Lesbos que, segundo a lenda, cometeu suicídio por amor a Fáon.
Deus Netuno: Nome romano de Poseidon, deus grego dos oceanos.
Alheta: Encontro da popa e lateral do navio.
Desrizar: Desenrolar.
Delfins: Golfinhos.
Empavesado: Embandeirado; Defendido.
Linfa: Água.
Borbotões: Bolhas de água que brotam.
Toninhas: Atuns de pouca idade e pequenos.
Repuxo: Jorro de água que se eleva bastante e cai em forma de chuva.
Tejo: Rio da Península Ibérica cuja foz situa-se em Lisboa.
Baixel: Pequeno navio ou barco.

Interpretação 

Na introdução da lira, Dirceu faz um pedido a Marília, pede-lhe que deixe os campos, a terra, e que vá se aventurar nos mares, em busca de terras desconhecidas para ela.
Em seguida diz que Marília é sua estrela guia e a partir de então começa a descrever como seria a viagem. Ele lhe diz que ela verá o mar em calmaria quando Netuno estiver sossegado, que sentirá o vento em seu rosto enquanto delfins acompanham o navio, que verá as ondas se transformarem em espuma e borbotões diante de seus olhos. Também conta o que ela há de ver ao fisgar um peixe, o que há de sentir ao ver os peixes na água se igualando aos pássaros no céu.
Na penúltima estrofe da lira, Dirceu dá esperanças dizendo que mesmo quando vier a monstruosa tempestade, depois dela surgirão nuvens de diversas cores e formas e que então, por fim, Marília chegará ao seu destino e irá ao encontro de seu amado e este dirá que Marília é o único tesouro que ele trouxe, mas é também o mais precioso.

Características do Arcadismo

Mais uma vez, nota-se a presença da cultura Greco-romana na lira na citação de Safo e Netuno.
O desprendimento do materialismo também é evidente na lira, principalmente na última estrofe, quando Dirceu faz pouco caso de pedras preciosas e montes de ouro, ao mesmo tempo em que descreve Marília como sendo seu maior tesouro.
Já no próprio enredo da lira, o Carpe Diem fica claro assim como a valorização da natureza, pois a todo momento Dirceu fala do quanto sua amada aproveitaria seus dias de viagem, e quanto à natureza, Dirceu fala das ondas negras tornando-se espuma branca, dos golfinhos acompanhando o navio e de toninhas pulando no oceano. 

Situação histórica

É provável que quando esta lira foi escrita Tomás já havia sido exilado em Moçambique, e apesar de ter passado anos sem ver Maria Dorotéia ele ainda tinha uma fagulha de esperança e ela ainda inspirava Marília. Gradativamente, com o tempo, Marília foi sendo cada vez menos aparente nas liras, mas este não é o caso desta, na qual ele implicitamente pede a Maria Dorotéia que, atravessando o mar, vá ao encontro dele em seu exílio.


Isabella, nº20, 1ºA

parte III :Marília de Dirceu.

Análise da
LIRA VIII:

Em cima dos viventes fatigados
Morfeu as dormideiras espremia:
Os mentirosos sonhos me cercavam;
Na vaga fantasia
Ao vivo me pintavam
As glórias, que desperto,
Meu coração pedia.

Eu vou, eu vou subindo a nau possante,
Nos braços conduzindo a minha bela;
Volteia a grande roda, e a grossa amarra
Se enleia em torno dela;
Já ponho a proa à barra,
Já cai ao som do apito
Ora uma, ora outra vela.

Os arvoredos já se não distinguem:
A longa praia ao longe não branqueja;
E já se vão sumindo os altos montes,
Já não há que se veja
Nos claros horizontes,
Que não sejam vapores,
Que Céu, e mar não seja.

Parece vão correndo as negras águas,
E o pinho qual rochedo estar parado;
Ergue-se a onda, vem à nau direita,
E quebra no costado;
O navio se deita,
E ela finge a ladeira
Saindo do outro lado.

Vejo nadarem os brilhantes peixes,
Cair do lais a linha que os engana;
Um dourado no anzol está pendente,
Sofre morte tirana,
Entretanto que a sente,
Ao tombadilho açoita
A cauda, e a barbatana.

Sobre as ondas descubro uma carroça
De formosas conchinhas enfeitada;
Delfins a movem, e vem Tétis nela;
Na popa está parada;
Nem pode a Deusa bela
Tirar os brandos olhos
Na minha doce amada.

Nas costas dos golfinhos vêm montados
Os nus Tritões, deixando a esfera cheia
Com o rouco som dos búzios retorcidos.
Recreia, sim, recreia
Meus atentos ouvidos
O canto sonoroso
Da música sereia.

Já sobe ao grande mastro o bom gajeiro;
Descobre arrumação, e grita - terra!
À murada caminha alegre a gente;
Alguns entendem que erra;
Pelo imóvel somente
Conheço não ser nuvem,
Sim o cume d'alta serra.

De Mafra já descubro as grandes torres;
(E que nova alegria me arrebata!)
De Cascais a muleta já vem perto,
Já de abordar-nos trata;
Já o piloto esperto,
Inda debaixo manda
Soltar mezena, e gata.

Eu vou entrando na espaçosa barra,
A grossa artilharia já me atroa;
Lá ficam Paço d'Arcos, e a Junqueira;
Já corre pela proa
Uma amarra ligeira;
E a nau já fica surta
Diante da grã Lisboa.

Agora, agora sim, agora espero
Renovar da amizade antigos laços;
Eu vejo ao velho pai, que lentamente
Arrasta a mim os passos;
Ah! com vem contente!
De longe mal me avista,
Já vem abrindo os braços.

Dobro os joelhos, pelos pés o aperto;
E manda que dos pés ao peito passe;
Marília, quanto eu fiz, fazer intenta;
Antes que os pés lhe abrace
Nos braços a sustenta;
Dá-lhe de filha o nome,
Beija-lhe a branca face.

Vou descer a escada, oh Céus, acordo!
Conheço não estar no claro Tejo;
Abro os olhos, procuro a minha amada,
E nem sequer a vejo.
Venha a hora afortunada,
Em que não fique em sonho
Tão ardente desejo!

Glossário:
fatigados:cansado,esgotado.
Morfeu:deus grego dos sonhos.
Dormideiras: ou sensitiva também conhecida como dorme-dorme ( Mimosa pudica ) é um pequeno arbusto perene da América tropical, pertencente à família das ervilhas.
Nau:navios de grande porte.
Enleia (o): Dúvida, confusão, embaraço.
Proa: Parte anterior de um navio.
Arvoredos: Lugar plantado de árvores; bosque.
Náutica a mastreação do navio.
Costado: Náutica Conjunto de chapas ou pranchas que revestem o cavername de um navio.
Ladeira: caminho muito íngreme.
tombadilho:A parte mais elevada de um navio, que vai do mastro da mezena até a popa.
barbatana: Cada um dos órgãos membranosos com que se deslocam na água os peixes e alguns cetáceos.
Delfins:Cetáceo, o mesmo que golfinho.
Constelação do Norte.
tétis: Deusa do mar.
Tritões: Tritão é um deus marinho.
Búzios:Concha univalve, cônica ou ovoide, que pertence a molusco gastrópode.
Recrear:Proporcionar recreio a; divertir; distrair.
Mastro: Marinha Peça de madeira vertical ou oblíqua que suporta o velame do navio.
Gajeiro: O marinheiro encarregado de vigiar no cesto da gávea as embarcações ou a terra.
mezena: Náutica Vela que se enverga na carangueja do mastro de ré em ocasião de mau tempo.
Artilharia: Uma das armas principais dos exércitos de terra e mar, encarregada da manipulação dos projéteis e de seus meios de lançamento.
Tejo: Rio que banha a Espanha e Portugal.
interpretação:
Nessa lira o eu-lirico refere-se a um sonho.Analisamos que dirceu,está  em um navio,com sua amada Marília,Ele retrata as cenas de seu sonho,como;” A longa praia ao longe não branqueja”...” Nos claros horizontes/ Que não sejam vapores/Que Céu, e mar não seja.Onde ele afirma que se vê apenas o céu e o mar.Ao longo da viagem.Ele da muitos detalhes do navio de como ele esta sendo conduzido:     
                           Ergue-se a onda, vem à nau direita,
                           E quebra no costado;
                           O navio se deita,
                           E ela finge a ladeira
                           Saindo do outro lado.

Dirceu observa os peixes no mar,usa e vê um deles ser mortos,e em detalhes descreve na quinta estrofe.Ouve os canto da sereia,em seu sonho há também sua chegada em lisboa.Dirceu sente se confiante e que há a possibilidade dele renovar suas amizades,ele vê seu pai,e o seu esperado abraço: 

                Agora, agora sim, agora espero
                
 Renovar da amizade antigos laços;
                 Eu vejo ao velho pai, que lentamente
                 Arrasta a mim os passos;
                 Ah! com vem contente!
                 De longe mal me avista,
                 Já vem abrindo os braços.
 
.
Ele vê marilia,e ela estava com sua filha,a quem lhe dá um beijo.Quando desce a escada,ele acorda e proucura sua amada,e não a vê,então ele percebe que foi apenas um sonho.Ele espera que esse ardente desejo não fique apenas em sonho e que chegue logo a hora de vê-lá.   
 Caracteristicas da lira e do arcardismo:
Dirceu caracteriza,em detalhes a paisagem de seu sonho.ultiliza,figuras mitologicas como a”tétis”(deusa do mar)e “tritões”(deus marinho).Dirceu sente muita falta das pessoas que ama e pode ter sido um espaço para ter sonhado,o que se nota é que dirceu fica tão feliz,que sente experanças de poder recuperar suas amizades e as coisas que deixou no passado.vê também o uso do nativismo,quando se refere ao meio natural,ele exalta a beleza em detalhes. 
  Situação histórica:
 terceira edição (1800),Essa terceira parte, mas de autenticidade questionável. Seu lirismo é de profunda intimidade. Não foi certamente original, porque o gênero pastoril ou bucólico vem desde Teócrito e Virgílio. Em celebrar o amor, a beleza e a vida feliz foi mestre Anacreonte. Mas a Intensidade de subjetivismo era alguma coisa de novo naquela época formalística e fria do vazio arcáico. Caíram suas poesias no agrado do povo.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  
luanna,n "26",1"A".

Análise da Lira IX - Terceira Parte

Lira IX
(A uma despedida) 

Chegou-se o dia mais triste
que o dia da morte feia;
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Ímpio Fado, que não pôde
os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Parto, enfim, e vou sem ver-te,
que neste fatal instante
há de ser o teu semblante
mui funesto aos olhos meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

E crês, Dircéia, que devem
ver meus olhos penduradas
tristes lágrimas salgadas
correrem dos olhos teus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

De teus olhos engraçados,
que puderam, piedosos,
de tristes em venturosos
converter os dias meus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Desses teus olhos divinos,
que, terno e sossegados,
enchem de flores os prados
enchem de luzes os céus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Destes teus olhos, enfim,
que domam tigres valentes,
que nem rígidas serpentes
resistem aos tiros seus?
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Da maneira que seriam
em não ver-te criminosos,
enquanto foram ditosos,
agora seriam réus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Parto, enfim, Dircéia bela,
rasgando os ares cinzentos;
virão nas asas dos ventos
buscar-te os suspiros meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Talvez, Dircéia adorada,
que os duros fados me neguem
a glória de que eles cheguem
aos ternos ouvidos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Mas se ditosos chegarem,
pois os solto a teu respeito,
dá-lhes abrigo no peito,
junta-os c'os suspiros teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

E quando tornar a ver-te,
ajuntando rosto a rosto,
entre os que dermos de gosto,
restitui-me então os meus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!

Glossário

Ímpio Fado: Destino desumano, cruel.
Mui funesto: Muito entristecedor, fatal.
Piedoso: Que tem compaixão.
Venturosos: Felizes.
Prado: Terreno coberto de plantas herbáceas (ervas).
Ditoso: Que tem sorte, afortunado.
Réu: Culpado, de má índole.

Interpretação 

A Lira IX (também intitulada A uma despedida) da terceira parte do livro Marília de Dirceu traz à tona um sentimento de tristeza do eu lírico por ter de deixar a amada. Esse sentimento é notável no decorrer de toda a lira. Logo na primeira estrofe há uma comparação profunda sobre o dia em que Dirceu teve de partir: "Chegou-se o dia mais triste/ Que o dia da morte feia", evidenciando assim  o tamanho do seu amor por Marília e o tamanho da sua tristeza, uma vez que, para algo ser considerado pior que a morte, tem de ser realmente ruim.
A lira possui um refrão saudoso, que dá ênfase ao descontentamento de Dirceu a cada estrofe: "Ah! não posso, não, não posso/ Dizer-te, meu bem, adeus!"; vale reparar que, no refrão, ele nega por três vezes a sua capacidade de despedir-se. Neste poema o eu lírico refere-se à amada como Dirceia; não mais usa o vocativo Marília, como nas liras anteriores. Entende-se que Dirceia é um nome referente a Dirceu (de Dirceu). Na segunda estrofe, o eu lírico descreve a separação como um ímpio fado, um destino cruel, difícil de suportar... Para ele, será como um castigo ficar distante dos olhos da amada. 
Na terceira estrofe, Dirceu toma a decisão de partir sem vê-la, pois chega à conclusão de que, nesse momento, o semblante de Marília seria entristecedor aos olhos dele e, no refrão, é reafirmado que ele não pode dizer adeus. 
A partir da quarta estrofe é dado um destaque especial aos olhos de Dirceia: olhos engraçados, que transformaram os dias de Dirceu, olhos divinos, olhos ternos e sossegados, olhos tão profundos e determinados que poderiam domar tigres valentes... É desses olhos que ele não consegue despedir-se, e é desses olhos que ele sentirá falta. 
Na nona estrofe, o eu lírico começa a usar de uma ideia metafórica: diz que está partindo, e que os suspiros dele irão buscá-la, porém, talvez eles não cheguem, mas pede que, se eles chegarem, ela os abrigue no peito, junto com os suspiros dela. Isso pode ser interpretado como uma súplica, um pedido desesperado de que ela não o esqueça, mas guarde-o no coração. 
A última estrofe do poema vem com uma pitada de esperança, amenizando o clima melancólico e saudoso estabelecido até aqui. É nesta estrofe que pode-se notar que Dirceu ainda espera poder voltar a ver Marília, estar junto dela, entre os suspiros que eles darão de felicidade. Ele diz que, quando isso acontecer, ela irá devolver-lhe seus suspiros. Os suspiros podem ser entendidos, aqui, como a alegria de viver: quando eles se reencontrarem, todo o gosto pela vida que ele perdeu enquanto estava longe da amada voltará. 

Características do Arcadismo e da lira

A Lira IX é uma lira mais focada no sentimento de tristeza e do eu lírico. Toda a tranquilidade amorosa árcade demonstrada nas liras anteriores desaparece e dá lugar a uma saudade desesperada. Pode-se notar uma leve presença da valorização da natureza na sétima estrofe, nos versos "Enchem de flores os prados/ Enchem de luzes os Céus". Há uma simplicidade subentendida, uma vez que o eu lírico está de partida, mas, em momento algum, ele demonstra preocupação com os bens materiais que ficarão. Se preocupa apenas com a amada, o que pode se encaixar na aurea mediocritas: valorização das coisas simples. O pseudônimo Dirceia é usado ao longo de todo o poema, um pseudônimo diferente do que estávamos habituados a ver, mas é utilizado com a mesma intenção árcade: eliminar as marcas das origens nobres ou plebeias. Nota-se que a linguagem utilizada é simples, assim como nas liras anteriormente analisadas, o que é uma característica típica do Arcadismo. É bem notória a presença de duas características pré-românticas: o emocionalismo que é empregado na expressão pungente (dolorosa) da crise amorosa e, como já foi dito anteriormente, a saudade.

Comentário sobre a situação histórica

Sabe-se que Gonzaga era apaixonado por uma moça 23 anos mais jovem que ele e que, naturalmente, a família dela se opunha ao relacionamento do casal. Quando o poeta já estava vencendo as resistências da família, foi preso e enviado para a  Ilha das Cobras por participar da Inconfidência Mineira. Logo depois ele foi exilado para Moçambique, onde teve de passar os últimos 17 anos da sua vida. Foi, provavelmente, nessa época em que foi escrita a terceira parte de Marília de Dirceu. Essa parte do livro fala de amores, desenganos e traições, mas a figura de Marília não se faz presente com a mesma intensidade de antes. Vale notar, também, que a autenticidade da terceira parte do livro é contestada por muitos críticos.
A Lira IX é um retrato perfeito do momento em que Tomás Antônio Gonzaga teve que deixar o país e a amada, e mostra toda a dor que ele sentiu. Ele nunca chegou a se casar com Maria Doroteia, mas esse namoro se tornou o primeiro mito amoroso da nossa literatura e deixou-nos uma das mais belas obras líricas existentes.

Roberta, nº 32, 1º "A".

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Professor Ivan, 


Nosso grupo ficaria extremamente agradecido se a atividade surpresa fosse postada logo, uma vez que um dia não é o suficiente para fazer, já que muitos dos componentes desse grupo têm compromissos, tais quais incluem as diversas atividades do componente curricular de Português. Estamos cientes de seus compromissos também, esperamos que não seja exigir muito.
 


Desde já agradecidos,
o grupo.

Análise da Lira VI (Parte III)

Lira VI
(Tradução)

Amor, que seus passos
ligeiro movia
por mil embaraços,
que um bosque tecia,

Nos ombros me acena
com brando raminho;
e logo me ordena
que siga o caminho.

Por entre a espessura
do bosque me avanço;
e atrás da ventura,
incauto, me lanço.

Já tinha calcado
os montes mais duros,
co peito rasgado
os rios escuros:

Eis que uma serpente,
a língua vibrando,
me crava o seu dente,
me deixa expirando.

Então, surpreendida
da dor que a traspassa,
minha alma ferida
aos beiços se passa.

As iras detesta
Amor. Isto vendo,
e as asas na testa
me bate, dizendo:

- Tu choras, tu gemes,
da serpe tocado,
e o braço não temes
de um númem irado?

Glossário:

Brando: Terno, meigo.
Incauto: Que ou aquele que é desprovido de cautela ou desprevenido.
               Algo ou alguém que não demonstra malícia, nem perversidade.
Serpe: Poética. Serpente.

            Antiga peça de artilharia.
            Arquitetura. Linha ou ornato em forma de serpente.
Co: Com o.

Interpretação:

O grande poeta Tomás Antônio Gonzaga escreve depois de se exílio uma das mais belas Liras de toda sua obra, onde se vê que mesmo rodeado por tantos problemas da vida ele não deixa transparecer sua dor enquanto escreve belíssimos versos para sua amada.
O autor descreve os gestos e os movimentos de sua amada, o que demonstra que além de ser um gênio com as palavras ele é um exímio observador dos pequenos detalhes, detalhes que podem ser observamos nos seguintes versos:
’’
Amor, que seus passos
   ligeiro movia [...]’’.
Ele também demonstra sua fragilidade e dor, como se pode ver na seguinte estrofe:
’’
Então, surpreendida
  da dor que a traspassa,
  minha alma ferida
  aos beiços se passa.’’.
Gonzaga porém não perde a chance de enaltecer a si e sua amada e deixa bem claro assim como na Lira III desta mesma parte que seu amor será eternizado por suas liras.

Características:

Observa-se que há uma certa exaltação da natureza por parte do autor.Nessa época iniciava o desenvolvimento urbano, o campo passa a ser encarado a partir de então como um bem perdido.Procurava-se fugir da cidade(fugere urbem), indo ao encontro da natureza, o lugar da purificação , aquele que, com sua simplicidade, se opõe à artificialidade da vida citadina.Assim, o bucolismo, a exaltação da vida campestre, com sua paisagem praticamente intocada e a simplicidade dos hábitos rurais afiguram-se como um refúgio ideal.Pode-se perceber essa característica quando o autor fala sobre o bosque
Podemos perceber que Gonzaga usa de simplicidade com relação às palavras.


Comentário sobre o contexto histórico:

Mais uma vez a genialidade de Tomás Antônio Gonzaga surpreende.
Depois passar alguns anos no exílio, onde escreveu a segunda parte de sua obra que revela seu sofrimento físico e moral, Gonzaga encontra-se fragilizado. Na III parte de seu livro, que provavelmente foi escrito após o degredo, o poeta fala de amores, traições e desenganos, mas o que chama atenção é que a figura de Marília não está tão presente nesta parte quanto nas outras. Pode-se concluir então que as Liras feitas por ele a partir de agora começam a ser dedicadas não apenas a Marília, mas também a outras ‘’pastoras’’.

Marcone, n°
28 , 1° ''A''.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Segunda Parte: Lira XXXVII

Meu sono Passarinho,
Se sabes do meu tormento,
E buscas dar-me, cantando,
Um doce contentamento,

Ah! não cantes, mais não cantes,
Se me queres ser propício;
Eu te dou em que me faças
Muito maior benefício.

Ergue o corpo, os ares rompe,
Procura o Porto da Estrela,
Sobe à serra, e se cansares,
Descansa num tronco dela,

Tome de Minas a estrada,
Na Igreja nova, que fica
Ao direito lado, e segue
Sempre firme a Vila Rica.

Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte,
Passa a segunda, a terceira
Tem um palácio defronte.

Ele tem ao pé da porta
Uma rasgada janela,
É da sala, aonde assiste
A minha Marília bela.

Para bem a conheceres,
Eu te dou os sinais todos
Do seu gesto, do seu detalhe,
Das suas feições, e modos.

O seu semblante é redondo,
Sobrancelhas arqueadas,
Negros e finos cabelos,
Carnes de neve formadas.

A boca risonha, e breve,
Suas faces cor-de-rosa,
Numa palavra, a que vires
Entre todas mais formosa.

Chega então ao seu ouvido,
Diz, que sou quem te mando,
Que vivo nesta masmorra,
Mas sem alívio penando.

Glossário

propício - apropriado;
semblante - rosto;
masmorra - Aposento sombrio e triste;
penando - padecendo, sofrendo;

Interpretação

Esta obra tem como base o reflexo de idéias do Iluminismo, o autor voltava-se para a racionalidade e clareza. A Lira XXXVII tem a localização geográfica da casa de Marília tornando o poema mais realista pela citação do Estado de Minas Gerais e da cidade de Vila Rica quebrando assim a convenção árcade de natureza convencional da Arcádia, é no entanto, um verso doce e compreensivo de se ler. De início o eu lírico mostra-se incomodado ao ouvir o passarinho cantando, apesar de ser um lindo canto isso lhe atormenta pois lhe faz lembrar de Marília. Ele então segue dizendo o quão deslumbrante é esse passarinho e por qual trajetória esse passarinho percorre, onde acaba pousando-se ao pé da porta de uma rasgada janela da sala, de onde Marília está. O eu lírico a partir daí diz os gestos, detalhes, suas feições e modos de Marília, para bem conhece-la, '' O seu semblante é redondo,/Sobrancelhas arqueadas,/Negros e finos cabelos,/Carnes de neve formadas./A boca risonha, e breve,/Suas faces cor-de-rosa ''. Dirceu finaliza dizendo o que gostaria de dizer a Marília ao '' pé do ouvido '', a quem queria ser dono, onde é prisioneiro desta paixão e quer encontrar uma saída para viver com sua amada, sem sofrimento e sem dor.

Características

Entende-se aqui pela Lira XXXVII que as características pré-românticas se fazem sentir mais agudamente, onde o temor do futuro rompe constantemente o equilíbrio clássico. As convenções, embora ainda presentes, não sustentam o equilíbrio neoclássico. O tom confessional e o pessimismo prenunciam o emocionalismo romântico.Tem como características Arcade a tomada de posição retratada em uma verdadeira repulsa aos excessos preconizados pela arte barroca. Dessa forma, os representantes árcades optavam pela simplicidade, pela ordem direta da linguagem e pela clareza. Tendo isso como virtude, ressalta-se que toda criação que dela se originasse deveria ser filtrada tão somente pela razão. Nesse sentido, o artista deveria recorrer a emoções genéricas, e não à aquelas oriundas de paixões criativas, fruto da inspiração pura e simples do enunciador.

Situação Histórica

Esta obra é ressaltada pelas tristezas resultantes dos dias no cárcere que inspiram lamentos e devaneios sobre o passado. O eu-lírico passa a usar Marília como um pretexto para falar mais de si próprio, atitude que os críticos consideram pré-romântica. No entanto, a estabilidade do estilo e a equidistância entre a palavra e o eu situam a obra no Arcadismo, apesar dos evidentes avanços estéticos. À diferença da poesia romântica, aqui os versos se devem diretamente à ponderação racional. 

Amanda Marques nº 02 , 1º A

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Análise da Lira XV - Segunda Parte

Lira XV

Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.

Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.

Se o rio levantado me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te aos menos compassivo o rosto.

Propunha-me dormir no teu regaço
As quentes horas da comprida sesta,
Escrever teus louvores nos olmeiros,
Toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
Que a tanto grau subisse a glória minha.

Ah! minha Bela, se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essas faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra.

Fiadas comprarei as ovelhinhas,
Que pagarei dos poucos do meu ganho;
E dentro em pouco tempo nos veremos
Senhores outra vez de um bom rebanho.
Para o contágio lhe não dar, sobeja
Que as afague Marília, ou só que as veja.

Senão tivermos lãs, e peles finas,
Podem mui bem cobrir as carnes nossas
As peles dos cordeiros mal curtidas,
E os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
Por mãos de amor, por minhas mão cosido.

Nós iremos pescar na quente sesta
Com canas, e com cestos os peixinhos:
Nós iremos caçar nas manhãs frias
Com a vara envisgada os passarinhos.
Para nos divertir faremos quanto
Reputa o varão sábio, honesto e santo.

Nas noites de serão nos sentaremos
C’os filhos, se os tivermos, à fogueira;
Entre as falsas histórias, que contares,
Lhes contarás a minha verdadeira.
Pasmados te ouvirão; eu entretanto
Ainda o rosto banharei de pranto.

Quando passarmos juntos pela rua,
Nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores;
Dizendo uns para os outros: “Olha os nosso
“Exemplos da desgraça, e são amores”.
Contentes viveremos desta sorte,
Até que chegue a um dos dois a morte

Glossário

Choça: Construção rústica revestida de palha ou de folhas.
Cajado: Pau para apoiar quem caminha.
Regaço: Concavidade formada pela roupa entre a cintura e os joelhos de pessoas sentadas.
Sesta: Sono que se dorme depois do almoço.
Olmeiros: Grandes árvores frondosas.
Papoulas: Gênero de plantas que serve de tipo às papaveráceas.
Jove: Júpiter na mitologia Romana, ou Zeus, na mitologia grega.
Cosido: Costurado.
Envisgada: Presa.
Reputar: Julgar, crer.
Serão: Trabalho feito à noite.

Interpretação

Na Lira XV da segunda parte de Marília de Dirceu, o eu lírico fala aberta e claramente sobre a perda de seus bens que antes o colocavam em uma condição social mais elevada. Os  versos da primeira estrofe "Tiraram-me o casal e o manso gado,/ Nem tenho, a que me encoste, um só cajado." explicitam toda essa perda e, não só isso, deixam uma leve impressão de uma valorização dos bens materiais (o que iria contra a filosofia de vida aurea mediocritas: valorização das coisas simples). Isso é logo explicado na estrofe seguinte, onde fica claro que Dirceu só queria ainda ser dono de um grande rebanho para ter o que dar à Marília e que ele valoriza muito mais a amada que qualquer riqueza. Outra situação enfatizada é a de que Dirceu não se importava com as pequenas perdas, já que podia estar perto de sua Marília, porém, agora que tudo perdeu, ele nem sequer pode vê-la, afinal de contas, um homem sem bens não era considerado digno de cortejar a amada. O eu lírico chega a atribuir ao Céu a não realização de todos os planos que este havia feito para uma vida com Marília. Até aqui a lira assumiu um caráter melancólico, lamentoso até, que logo é substituído por promessas que serão cumpridas caso a Fortuna volte. Daí em diante, Dirceu se mostra mais esperançoso e imerge em um mundo de planos para um futuro simples, alegre e promissor com a amada, que vai desde ovelhas compradas fiadas à filhos. Termina coma promessa de que viverão contentes desta sorte, até que a morte os separe. Fica claro que, mesmo em meio à esta situação desagradável, ele ainda é capaz de sonhar, admirar Marília e aspirar à toda uma vida com ela.

Características do Arcadismo e da lira

O pastoralismo, na Lira XV, está presente logo na primeira estrofe, quando o eu lírico se apresenta como um "honrado pastor da sua Aldeia", trazendo a ideia de simplicidade. A partir da quarta estrofe, a característica árcade mais marcante é o bucolismo: Dirceu faz seus planos para com a amada em um lugar ameno, tranquilo, agradável... Uma Natureza acolhedora, que seria o cenário de toda sua vida futura com Marília. Não há uma presença constante de entidades mitológicas como em outras liras; nesta, o eu lírico cita Jove (Júpiter) apenas uma vez. É notável o tema clássico aurea mediocritas, que valoriza as coisas simples da vida, já que Dirceu deixa claro que ele não se importa de não ter nada e fará de tudo pelo amor. No decorrer da lira, nota-se que este é um texto de fácil entendimento, uma vez que os poetas árcades usavam do predomínio da lógica, da clareza e recusavam uma maior elaboração da língua.

Comentário sobre a situação histórica

A segunda parte de Marília de Dirceu foi escrita quando Dirceu já estava aprisionado aqui no Brasil por participar da Inconfidência Mineira, movimento que tinha a intenção de proclamar a República e tornar o país independente de Portugal. Não foi um movimento bem sucedido, pois Joaquim Silvério dos Reis, um dos financiadores do movimento, delatou-o, levando à prisão de Tomás Antônio Gonzaga e outros líderes do movimento. Isso explica o fato de a  Lira XV ser um retrato dos sofrimentos da prisão, de uma imensa saudade de Marília e questionamentos sobre o destino.

Roberta, nº 32, 1º "A".