sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Segunda Parte: Lira XXXVII

Meu sono Passarinho,
Se sabes do meu tormento,
E buscas dar-me, cantando,
Um doce contentamento,

Ah! não cantes, mais não cantes,
Se me queres ser propício;
Eu te dou em que me faças
Muito maior benefício.

Ergue o corpo, os ares rompe,
Procura o Porto da Estrela,
Sobe à serra, e se cansares,
Descansa num tronco dela,

Tome de Minas a estrada,
Na Igreja nova, que fica
Ao direito lado, e segue
Sempre firme a Vila Rica.

Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte,
Passa a segunda, a terceira
Tem um palácio defronte.

Ele tem ao pé da porta
Uma rasgada janela,
É da sala, aonde assiste
A minha Marília bela.

Para bem a conheceres,
Eu te dou os sinais todos
Do seu gesto, do seu detalhe,
Das suas feições, e modos.

O seu semblante é redondo,
Sobrancelhas arqueadas,
Negros e finos cabelos,
Carnes de neve formadas.

A boca risonha, e breve,
Suas faces cor-de-rosa,
Numa palavra, a que vires
Entre todas mais formosa.

Chega então ao seu ouvido,
Diz, que sou quem te mando,
Que vivo nesta masmorra,
Mas sem alívio penando.

Glossário

propício - apropriado;
semblante - rosto;
masmorra - Aposento sombrio e triste;
penando - padecendo, sofrendo;

Interpretação

Esta obra tem como base o reflexo de idéias do Iluminismo, o autor voltava-se para a racionalidade e clareza. A Lira XXXVII tem a localização geográfica da casa de Marília tornando o poema mais realista pela citação do Estado de Minas Gerais e da cidade de Vila Rica quebrando assim a convenção árcade de natureza convencional da Arcádia, é no entanto, um verso doce e compreensivo de se ler. De início o eu lírico mostra-se incomodado ao ouvir o passarinho cantando, apesar de ser um lindo canto isso lhe atormenta pois lhe faz lembrar de Marília. Ele então segue dizendo o quão deslumbrante é esse passarinho e por qual trajetória esse passarinho percorre, onde acaba pousando-se ao pé da porta de uma rasgada janela da sala, de onde Marília está. O eu lírico a partir daí diz os gestos, detalhes, suas feições e modos de Marília, para bem conhece-la, '' O seu semblante é redondo,/Sobrancelhas arqueadas,/Negros e finos cabelos,/Carnes de neve formadas./A boca risonha, e breve,/Suas faces cor-de-rosa ''. Dirceu finaliza dizendo o que gostaria de dizer a Marília ao '' pé do ouvido '', a quem queria ser dono, onde é prisioneiro desta paixão e quer encontrar uma saída para viver com sua amada, sem sofrimento e sem dor.

Características

Entende-se aqui pela Lira XXXVII que as características pré-românticas se fazem sentir mais agudamente, onde o temor do futuro rompe constantemente o equilíbrio clássico. As convenções, embora ainda presentes, não sustentam o equilíbrio neoclássico. O tom confessional e o pessimismo prenunciam o emocionalismo romântico.Tem como características Arcade a tomada de posição retratada em uma verdadeira repulsa aos excessos preconizados pela arte barroca. Dessa forma, os representantes árcades optavam pela simplicidade, pela ordem direta da linguagem e pela clareza. Tendo isso como virtude, ressalta-se que toda criação que dela se originasse deveria ser filtrada tão somente pela razão. Nesse sentido, o artista deveria recorrer a emoções genéricas, e não à aquelas oriundas de paixões criativas, fruto da inspiração pura e simples do enunciador.

Situação Histórica

Esta obra é ressaltada pelas tristezas resultantes dos dias no cárcere que inspiram lamentos e devaneios sobre o passado. O eu-lírico passa a usar Marília como um pretexto para falar mais de si próprio, atitude que os críticos consideram pré-romântica. No entanto, a estabilidade do estilo e a equidistância entre a palavra e o eu situam a obra no Arcadismo, apesar dos evidentes avanços estéticos. À diferença da poesia romântica, aqui os versos se devem diretamente à ponderação racional. 

Amanda Marques nº 02 , 1º A

10 comentários:

  1. A interpretação da lira esta muito boa,sua argumentação esta muito clara,as características do arcadismo foi bem explicada e a situação histórica também.

    luanna,1"a",n 26.

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  2. Amanda, sua análise no geral foi muito boa e compreensível. Algo que notei na lira, logo no primeiro verso, foi um erro de grafia: "Meu sono passarinho", ao invés de "Meu sonoro passarinho". No mais, sua análise foi ótima a meu ver.

    Ruth Oliveira, nº 33, 1º "A".

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  3. A interpretação foi bem clara, você explicou bem as características do Arcadismo e soube falar da situação histórica que estava ocorrendo na lira.

    Stefane Sampaio 1° Ano ''A'' N°35

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  4. Mais uma vez a Amanda soube usar a beleza das palavras em sua análise,que por sinal ficou muito boa e esclareceu muitas dúvidas com relação à lira.

    Marcone, n°28 ,1º''A''.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. No meu ver, na interpretação (apenas na introdução) e no histórico foram apresentadas mais características árcades da lira do que nas características em si. Também foi dada muita ênfase ao pré-romantismo e a linguagem não foi tão simples em alguns momentos. Quanto ao restante, não tenho críticas.

    Isabella, nº20, 1ºA

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  7. No geral, a análise foi boa. Como a Isabella disse, muitas vezes houve uma elaboração extra da linguagem não tão necessária. Muito do comentário histórico poderia estar na interpretação, e outros fatos poderiam ser ressaltados no comentário histórico. As características do Arcadismo e da lira poderiam ter sido mais claras e objetivas.

    Roberta, nº 32, 1º "A".

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  8. Gostaria de saber por que não encontro nenhuma analise da lira XXXVIII de marilia de dirceu

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  9. QUERO SABER DA INTERPRETAÇÃO DA LIRA XXXVIII PARTE 2 ...PODEM ME AJUDAR ?

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  10. Não seria "onde assiste", em vez de "aonde assiste"?

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