segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Dissertação - Soneto III

A inocência como fator de bem

   Quantas vezes o homem se comporta como uma criança, e até lhe é grato voltar às travessuras de seu tempo de menino, porém esquece que perdeu a inocência e que tais posturas, embora particularizem um estado de ânimo festivo, não se ajustam às regras de conduta próprias de um homem maduro.
Segundo o dicionário online de português chamar alguém de inocente, significa atribuir a essa pessoa um patamar de quem não comete ou cometeu ato ilícito, e também dar a ela a condição de quem não e culpado. Porém essa definição desperta nos leitores certa
dúvida: uma pessoa que comete algo inaceitável pode ser chamada novamente de inocente?
   É possível voltar à inocência, quer dizer, à pureza no pensar, no sentir, no proceder e, adicionemos também, no tratamento que dispensamos a nós mesmos. E dizemos a nós mesmos porque é preciso saber que há uma vida de relação própria, uma vida íntima que pertence única e particularmente a cada um. Ali, nesse íntimo enlace entre a consciência, o coração e a mente, é onde se está perante o juízo que nos interroga e onde todo ser delibera sobre a natureza e o alcance de suas decisões. É justamente nessa vida de relação consigo mesmo que se deve cultivar a pureza fertilizante e ativa que torna puro o campo mental, permitindo que se deem à luz os pensamentos mais nobres e férteis, capazes de operar verdadeiros prodígios no interior do ser, como o de conduzi-lo a insuspeitadas metas do conhecimento.
   Observa-se a presença da inocência em todos os lugares, e em todos os âmbitos que se tem ideia. Um exemplo disto pode-se ver na bíblia sagrada, onde temos a primeira dispensação: a inocência, onde o homem não possuía o discernimento do bem e do mal.
   Se a verdade, mãe de todas as verdades, é fonte inesgotável de pureza e de saber, nada mais lógico que o homem busque submergir sua consciência nessa fonte e se sature desse princípio eterno que infunde a temperança e a benignidade, tão necessárias ao temperamento humano.
   As primeiras contaminações que se produzem na terna idade da infância e que influem tão consideravelmente no ânimo, na moral e instintos do ser, ocorrem na mente. É nela que tomam forma e se instalam como senhores os pensamentos que mais tarde gravitam decididamente no gênero de vida que se elege para satisfação deles.
     É fácil, então, compreender que, para eliminar todo pensamento nocivo e impuro, daqueles que corroem o entendimento, seja necessário efetuar uma rigorosa limpeza mental. Isto é primordial, fundamental, caso se queira resgatar paulatinamente o diáfano fulgor da inocência.
   É preciso saber que a inocência no homem deve ser produto de uma condição superior. A boa intenção, como a boa-fé, o altruísmo, o sentido do bem, do belo e do justo, são sinais característicos de elevação moral. Ali aparece a pureza de tudo de bom que se pode reunir como manifestação de uma vida gentil, amável, doce e consciente de sua natureza inofensiva e leal.
   Quantas fisionomias, ao despoluir-se a mente, não se limpariam dessas expressões de malícia, e quantos olhares maliciosos e intrigantes não se tornariam inofensivos, dissipando o receio do próximo à inspiração de sadios e elevados pensamentos, em cuja convivência a vida se transforma em formosos exemplos de bem!

Marcone, nº28, 1º "A".

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