Soneto
2
Num fértil campo de soberbo
Douro,
Dormindo sobre a relva,
descansava,
Quando vi que a Fortuna me
mostrava
Com alegre semblante o seu
tesouro.
De uma parte, um montão de
prata e ouro
Com pedras de valor o chão
curvava;
Aqui um cetro, ali um trono
estava,
Pendiam
coroas mil de grama e louro.
- Acabou – diz-me então – a desventura:
De quantos bens te exponho
qual te agrada,
Pois benigna os
concedo, vai, procura.
Escolhi, acordei, e não vi
nada:
Comigo assentei logo que a ventura
Nunca chega a passar de ser
sonhada.
Glossário
Fértil: produtivo.
Soberbo: grandioso,
magnífico.
Douro: ouro, riqueza.
Relva: erva rasteira.
Pendiam: inclinavam,
curvavam.
Desventura: infelicidade, miséria.
Benigna: faz o bem.
Ventura: sorte.
Interpretação
Neste Soneto, Gonzaga dava
saltadas de férias na casa de seus irmãos e tios, que moravam no Porto. Nota-se
que nos primeiros versos:
“Num fértil campo do soberbo
Douro
Dormindo sobre a relva,
descansava...”
O eu lírico demonstra-se
satisfeito por estar em meio de sua família e estar descansando em um produtivo
campo, que no soneto não deixa bem claro em qual campo, por isso inicia
utilizando o termo informal “Num”.
Ele cita também a felicidade
material como a Fortuna que lhe chega às mãos, como nos versos:
“Quando vi que a Fortuna me
mostrava,
Com alegre semblante o seu tesouro”.
Nos últimos versos pode-se
perceber que o autor cita o termo “ventura”, ou seja, logo nota que sua sorte “Nunca chega a passar de ser
sonhada”.
Características
do Arcadismo e da Lira
Pode-se notar que neste
Soneto as características estão menos presentes do que nas liras anteriormente.
Porém algo que permanece presente são os fatos citados da natureza como a
felicidade, a beleza e a tranquilidade no campo.
Nota-se também que o autor tematiza uma situação convencional, assim como outros poetas árcades,
como o uso de termos Greco Romano e Renascentista.
Assim, nesse Soneto, pode-se
observar que aos poucos Dirceu vai esquecendo Marília, e mais adiante por não
ter seu amor começa a imaginá-la como se a tivesse.
Comentário
sobre a situação histórica
A terceira parte da obra
Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga não é muito esclarecida, pois nessa
parte da obra o autor sente muitas saudades de sua amada, pois nunca pode tê-la. Portanto Marília, presente ou não, povoa o cotidiano de
Dirceu, já que o mesmo a cultiva em seus pensamentos. Há indícios de que
alguns de seus sonetos foram feitos depois de ter sido libertado em Moçambique. Mais tarde casa-se com Juliana de Souza Mascarenhas, filha de um traficante de
escravos, com quem tivera dois filhos.
Ruth Oliveira, nº 33, 1º "A".
A interpretação foi tão clara quanto poderia ser. Na minha opinião, mesmo que a situação do soneto se passe no campo, não há uma presença de felicidade, uma vez que Dirceu até mesmo relata um encontro com a Desventura e se lamenta porque a sorte, na verdade, não passava de sonho. Onde está a felicidade nisso? Quanto ao comentário sobre a situação histórica, há uma colocação má formulada, ao meu ver: "A terceira parte da obra Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga não é muito esclarecida, pois nessa parte da obra o autor sente muitas saudades de sua amada, pois nunca pode tê-la.". Realmente não acredito que este seja o motivo da falta de clareza da terceira parte da obra. Não entendi o porquê de, na situação histórica, haver um foco dado à Marília, uma vez que ela nem mesmo é citada neste soneto. Outros fatos deveriam ser citados no comentário histórico, como o motivo de Gonzaga ter sido exilado.
ResponderExcluirRoberta, nº 32, 1º "A".
Considerei uma boa análise, mas devo ressaltar que concordo com a Roberta.Não acho que o foco da análise deva ser Marília, uma vez que esta não é tão citada nesta última parte como nas anteriores.
ResponderExcluirMarcone, n°28, 1"A".
Sua análise foi bastante boa, mas tenho uma dúvida, quando é dito na interpretação que o contexto se passa na casa dos tios de Dirceu, isso é um fato consulmado ou uma dedução própria?
ResponderExcluirIsabella, nº20, 1ºA
Agradeço pelo comentário Roberta e Marcone. Acredito que houve um pequeno equívoco da minha parte no comentário histórico, concluo assim como vocês que neste soneto, Dirceu não se refere à Marília, por isso não foca na imagem dela. Mencionei isso na análise com o seguinte trecho: “... pode-se observar que aos poucos Dirceu vai esquecendo Marília...”.
ResponderExcluirIsabella, sobre o fato de Dirceu estar na casa de seus tios, não foi minha própria dedução. Essa parte pode ser encontrada no livro Marília de Dirceu, edição de Martin Claret, com o qual achei interessante mencionar para dar um acréscimo na análise. Acredito que devem ser encontrados em diferentes fontes outros tipos de comentários e opiniões, porém, nessa parte, me baseei com o material que possuía no momento.
Ruth Oliveira, nº 33, 1º "A".