domingo, 15 de setembro de 2013

Dissertação - Soneto III

Ilusórias aparências

        Acreditar cegamente no que se vê e criar impressões espontâneas das pessoas e coisas vistas são ações totalmente instintivas, automáticas e fazem parte da natureza humana. Mas as coisas nem sempre são exatamente como se fazem ser vistas. Os detalhes externos estão acostumados a pregar peças e, que ninguém se engane, os olhos são cúmplices disso.
         Estabelecer conceitos de objetos ou pessoas baseando-se no primeiro aspecto notado é algo que ocorre inconscientemente e que exige pouco esforço cognitivo. A explicação para isso está, simplesmente, no fato de que esta é uma característica adaptativa da espécie humana. Detectar rapidamente ameaças ou oportunidades no que se vê é um distintivo usado para reconhecer o valor reprodutivo das coisas. De acordo com o banco de dados PsycINFO Record, um estudo feito em 2007 por Becker, Kenrick, Neuberg, Blackwell e Smith chegou à conclusão de que faces masculinas são reconhecidas mais facilmente como bravas, enquanto as faces femininas são reconhecidas como felizes.
           Se um saca-rolha simples fosse entregue nas mãos de um indígena que nunca teve contato com esse tipo de objeto, ele certamente o observaria por um tempo e logo o classificaria como inútil, sem imaginar a utilidade por trás da aparência descomplicada da peça. É de conhecimento geral que nem tudo é o que parece ser, afinal, o aspecto de algo ou de alguém não é baseado em sua essência verdadeira. Um objeto aparentemente inútil pode ser, na verdade, algo com uma gama enorme de utilidades. Uma pessoa aparentemente dócil pode se revelar alguém nada amigável e, sem dúvida alguma, muitas pessoas já tiveram a oportunidade de descobrir isso.
            Não só as aparências podem pregar peças, mas os olhos também. Alguns fatores influenciam o modo como as pessoas enxergam determinadas coisas. O filósofo inglês John Locke (1632 – 1704) estabeleceu a diferença entre as qualidades sensoriais “primárias” e “secundárias”. As qualidades sensoriais primárias foram definidas como peso, forma, movimento e número das coisas, que são propriedades que os sentidos reproduzem verdadeiramente. Já as qualidades sensoriais secundárias abrangem, segundo ele, as cores, o cheiro, o gosto ou os sons das coisas. Essas outras propriedades não reproduzem características verdadeiras, mas sim o efeito que essas características exercem sobre os sentidos, o que significa dizer que o modo como as cores, o cheiro, o gosto e os sons das coisas são percebidos varia de pessoa para pessoa. Isso também explica o fato de haver opiniões divergentes acerca da beleza de alguém ou do sabor de uma comida.
           As emoções também afetam a maneira como as pessoas são vistas. Quando os sentimentos em relação a alguém são positivos, a tendência é que o indivíduo seja visto com uma aparência melhor do que a que realmente tem. O dito popular “quem ama o feio bonito lhe parece” traduz muito bem esse fato. Já quando esses sentimentos são negativos, a tendência é que se enxergue essa pessoa com uma aparência pior que a real.
               A frase “as aparências enganam” pode ser comum e repetitiva, mas é verdadeira. O aspecto físico é falso, enganoso, e nem mesmo os olhos são totalmente confiáveis, portanto é necessário cautela para não se deixar influenciar pelas aparências.

Roberta, nº 32, 1º "A".

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